Luis Pato é uma referência quando se fala na região vitivinícola da Bairrada, em Portugal.
Ele concedeu uma entrevista exclusiva para a DiVinho, falando dos diferenciais da região da Bairrada, da uva Baga e de seus grandes vinhos, como Luis Pato Vinhas Velhas Tinto e Branco, confira!
Sua família conta com uma longa tradição vitivinícola, que remonta ao século XVIII. Conte um pouco dessa história.
A Quinta do Ribeirinho pertenceu a vários produtores desde o século XVIII.
No início do século XIX era dirigida por um Capitão Mor, sendo que, ainda hoje temos um vinhedo que se chama Almas do Capitão.
A adega da Quinta do Ribeirinho tinha tonéis de vinho que foram deixados em herança a um de nossos antecessores, antes da praga Filoxera atingir a Europa.
Seu pai, João Pato, foi o primeiro produtor a elaborar vinhos na Bairrada, após tornar-se uma Região Demarcada. Como foi esse processo?
A Bairrada, embora fosse reconhecida como uma das três melhores regiões vitivinícolas de Portugal, só tornou-se uma Região Demarcada no ano de 1979.
A Bairrada fazia o corte de vinhos de diferentes regiões e, na época, as Regiões Demarcadas eram fechadas aos vinhos de outras regiões, como uma forma de manter a genuinidade do vinho regional.
Meu pai era o maior viticultor da Bairrada quando ela foi demarcada como uma D.O.C. (Denominação de Origem Controlada), sendo, naturalmente, o primeiro produtor a engarrafar vinho sob a designação, na safra de 1977!
O que diferencia os vinhos da Bairrada de outras regiões vitivinícolas?
A Bairrada é uma região que faz vinhos únicos, de castas próprias, que estão na região há séculos, provavelmente desde o século XII.
São vinhos naturais, que não precisam ser açucarados ou acidificados.
A natureza dá um equilíbrio para a Bairrada que permite produzirmos vinhos com intervenção mínima.
São vinhos que resultam de um ambiente saudável, onde não usamos herbicidas e estamos estudando eliminar o uso do sulfato de cobre para combater o míldio, de forma a não intoxicar os solos do vinhedo.
Isto só é possível porque todos os nossos vinhos nascem de vinhedos próprios, não compramos uvas.
Seu primeiro vinho, produzido com a uva Baga, foi lançado em 1980. Como foi trabalhar com a Baga em um momento em que essa variedade não era tão valorizada?
A Baga era praticamente a única casta tinta existente nas vinhas que herdei do meu pai. Era impossível usar qualquer outra uva, já que ela dominava 90% dos vinhedos da Bairrada.
A Baga reinava soberana como a uva tinta da Bairrada, sendo que nas brancas, a produção era dividida entre as variedades Maria Gomes, Bical e Cerceal.
Uma prática comum na região era a de acrescentar de 1% a 5% de uvas brancas nos vinhos tintos elaborados com a uva Baga, pois acreditava-se que o vinho ficava mais macio e aromático.
O meu primeiro vinho tinto de Baga tinha 2% de Maria Gomes e Bical, pois nasceu em vinhas que na época tinham cerca de 60 anos e eram fruto desse saber tradicional da Bairrada.
Em 1988, você plantou as primeiras videiras em pé-franco da uva Baga, na Bairrada. Quais foram os desafios desta empreitada?
Quando plantei este vinhedo a ideia era de saber como eram os vinhos da Bairrada, elaborados com a uva Baga, antes da praga da Filoxera chegar à Europa.
Descobri que as vinhas plantadas em pé-franco, produziam apenas um décimo do que as plantadas em porta-enxerto americano, porque o porta-enxerto americano aumenta o vigor da parreira europeia.
Você deixou, em 1999, de produzir seus vinhos dentro da Denominação de Origem Controlada (D.O.C.) da Bairrada, os classificando como Regional Beiras. Qual o motivo dessa decisão?
Em 1999, interrompi a certificação dos vinhos com a D.O.C. da Bairrada e passei a usar uma certificação mais ampla, Vinho Regional das Beiras, para demonstrar meu desagrado pela indicação do presidente da unidade certificadora.
Mas, hoje, já retornei à D.O.C. da Bairrada.
Os vinhos Luis Pato Vinhas Velhas Tinto e Branco são um verdadeiro sucesso de vendas. Fale um pouco desses rótulos.
Em 1988 utilizei pela primeira vez, em Portugal, o termo Vinhas Velhas, para ilustrar a qualidade dos vinhos elaborados a partir de vinhas mais antigas.
A ideia partiu do jornalista de vinhos José Salvador, que, ao provar um vinho meu, antes do corte final, pediu para não realizar o assemblage, pois ele o tinha adorado daquela maneira mesmo.
Como o vinho era oriundo de vinhas velhas, dei-lhe o nome Vinhas Velhas.
Em 1990, iniciei a produção do Vinhas Velhas Branco.
O Luis Pato Vinhas Velhas é elaborado apenas com a uva Baga. Já o Luis Pato Vinha Velhas Branco é um corte das castas Bical, Cerceal e Sercialinho.
São vinhos com podem envelhecer por várias décadas se bem acondicionados na adega.
Você também produz ótimos espumantes, como Luis Pato Baga Rosado e Maria Gomes. Conte-nos um pouco sobre esses rótulos.
São espumantes com perfis diferentes, o Luis Pato Maria Gomes é mais floral, aromático e suave.
Já o Luis Pato Baga Rosado resulta da primeira colheita, no mês de agosto, de uma parte dos cachos da uva Baga.
Eu faço duas colheitas na mesma parreira de Baga com um mês de diferença. A primeira colheita para o espumante e a segunda para o vinho tinto.
Esse é um processo que só nós fazemos, no mundo todo!
Em 2011, você lançou o primeiro vinho tinto produzido a partir de uma uva branca, o Fernão Pires. Como é o processo de produção desse vinho?
Ele se chama Fernão Pires porque foi elaborado para celebrar o nascimento do meu neto Fernão. Assim como eu, o avô, ele também tem o sobrenome Pires.
Resolvi fazer um trocadilho, e elaborar um vinho da uva branca Fernão Pires, nome pela qual a Maria Gomes é conhecida na Bairrada.
Mas, queria fazer algo diferente do que se aprende nas escolas de enologia. Adicionei, então, 6% de cascas da uva Baga, tingindo o mosto branco com a coloração tinta.
O resultado foi um vinho único que, qualquer enólogo diria que se trata de um vinho branco, mas com um defeito na coloração.
Luis Pato Quinta do Ribeirinho Pé Franco é um verdadeiro ícone, figurando em um lugar de destaque entre os grandes vinhos portugueses. Como é a sua produção?
Esse vinho é elaborado com a uva Baga, plantada em pé-franco, em solo arenoso, na Quinta do Ribeirinho.
Sabia, pelo exemplo da região de Colares, que a praga da Filoxera não atingia os vinhedos plantados em solos arenosos. Por isso, plantei a uva Baga sem porta-externo americano.
Descobri que o rendimento da uva Baga plantada em pé-franco é muito menor do que quando cultivada em porta-enxerto, entretanto, a concentração e complexidade aumentam na mesma proporção.
Como o seu rendimento é muito baixo, só produzimos anualmente, no máximo 2.000 garrafas, de um vinhedo de 2.5 hectares.
O Luis Pato Quinta do Ribeirinho Pé Franco é um vinho realmente especial, que pode envelhecer por até quarenta anos!
Quais rótulos você recomenda para quem está conhecendo seus vinhos?
Deve começar por conhecer as nossas castas, para entender a diversidade de sabores e aromas.
Degustar um branco de Maria Gomes, para depois passar pelo Luis Pato Vinhas Velhas Branco e chegar ao Bical da Vinha Formal.
Nos tintos, sugiro iniciar com o Luis Pato Baga Touriga, subindo ao Luis Pato Vinhas Velhas Tinto (100% Baga).
O próximo passo é descobrir os vinhos de vinhedo único, como o Luis Pato Vinha Pan e o Luis Pato Vinha Barrosa, elaborados com a uva Baga, que mostram como locais diferentes expressam vinhos diferentes.
Por fim, atingir o cume da montanha com a degustação do Luis Pato Quinta do Ribeirinho Pé Franco, que é elaborado com a uva Baga em solo arenoso.
Você encontra os melhores vinhos de Luis Pato na DiVinho! E você, já provou os rótulos desse grande produtor?