Bodegas Caro são um projeto que une dois grandes nomes no mundo dos vinhos, Domaines Barons de Rothschild (Lafite) e Catena Zapata.

Philippe Rolet, Diretor das Bodegas Caro,  concedeu uma entrevista exclusiva para a DiVinho, falando da ilustre parceria entre as famílias Catena e Rothschild, da região vitivinícola de Mendoza e de seus renomados rótulos, como CARO, Petit Caro e Aruma, confira:

Philippe Rolet
Philippe Rolet

Bodegas Caro representa uma parceria entre Domaines Barons de Rothschild (Lafite) e a família Catena Zapata, fale um pouco sobre essa aliança.

Esta união nasceu há vinte anos. Neste ano, 2020, celebramos o vigésimo aniversário.

É uma parceria entre sabedoria e experiência, onde a família Catena trouxe toda a sua expertise e conhecimento do terroir argentino e da cepa Malbec.

Enquanto a família Rothschild trouxe o conhecimento do amadurecimento e sua expertise com a cepa Cabernet Sauvignon.

Todos os vinhos envelhecem em barricas trazidas diretamente da França pela família Rothschild.

Além disso, Bodegas Caro, também é uma união entre o Velho Mundo e o Novo Mundo.

Da elegância do Cabernet Sauvignon com o caráter mais selvagem do Malbec. Podemos definir como um assemblage de contrastes.

Os vinhedos estão localizados em terroirs nobres, como Luján de Cuyo, Maipú e Vale do Uco. Quais as particularidades dessas regiões vitivinícolas?

Quando falamos de terroir na Argentina é importante destacar a altitude.

A altitude de Mendoza é provavelmente um dos fatores mais relevantes na classificação do terroir.

Em Mendoza encontramos vinhedos plantados a partir de seiscentos metros acima do nível do mar até mil e trezentos metros acima do nível do mar.

Nós trabalhamos exclusivamente com vinhedos de alta altitude.

Todas as uvas que entram nas Bodegas Caro são cultivadas acima de novecentos e cinquenta metros de altitude.

Basicamente oriundas de duas zonas, Luján de Cuyo e Vale do Uco.

Em Luján de Cuyo estamos em frente à Pré-Cordilheira dos Andes, um cordão montanhoso de três mil metros de altitude.

Quando falamos do Vale do Uco, é uma zona a cento e vinte quilômetros ao sul de Mendoza, em frente à Cordilheira Oriental dos Andes, entre cinco mil e seis mil metros de altitude.

Geralmente consideramos que a região do Vale do Uco é um pouco mais fria que a de Luján de Cuyo.

Por conta disso, conseguimos características distintas que são interessantes no momento do corte.

Encontramos também diferenças no solo de ambas as regiões.

Em Luján de Cuyo nossos vinhedos estão localizados em uma zona onde passava o curso do rio Mendoza, com muitas pedras pequenas.

Já no Vale do Uco temos argila e calcário presentes na composição do solo.

Bodegas Caro
Bodegas Caro

A adega está localizada no coração da região de Mendoza, construída entre 1884 e 1895, como foi sua renovação?

Muitas adegas em Mendoza foram construídas durante essa época, entre 1884 e 1885.

Pois, foi o ano que marcou a ligação da ferrovia à Buenos Aires. Buenos Aires historicamente concentra 40% da população da Argentina e muito da sua riqueza, sendo, desta maneira, o maior centro de consumos de vinhos.

Antes da ferrovia os vinhos precisavam viajar por mulas e carroças, em uma trajeto que durava quatro semanas até Buenos Aires.

Durante este período o vinho estava exposto ao sol e aqueles que montavam as mulas, muitas vezes, tomavam um pouco do vinho e substituíam por água.

Por conta disso, os vinhos nunca chegavam de maneira perfeita à Buenos Aires.

Com o advento da ferrovia os vinhos viajavam de Mendoza a Buenos Aires em apenas trinta e seis horas. Isto gerou um grande crescimento da viticultura na Argentina.

Historicamente, as bodegas argentinas foram construídas na região periférica de Mendoza.

Nossa adega, por exemplo, na época de sua construção, era rodeada de vinhedos.

Hoje, é uma das últimas adegas ainda em atividade na região, por conta do crescimento da cidade.

Nossa adega é realmente um patrimônio histórico de Mendoza.

Quando fizemos a restauração a palavra-chave foi respeito. Respeitamos 100% a arquitetura original.

Quando tivemos que substituir um ladrilho, por exemplo. utilizamos um ladrilho de demolição do ano de 1884, para gerar o mínimo de interferência.

Tudo foi feito para conservar o patrimônio.

Chego a dizer que custou mais caro renovar esta adega que construir uma nova.

Mas o grande diferencial dessa adega é que ela realmente tem uma alma.

Quando você entra nela é possível sentir que aqui foi realizada a criação de vinhos pelos últimos cem anos, e esta é uma sensação única.

Você assumiu a gestão das Bodegas Caro no ano passado, após Fernando Buscema ingressar no Instituto Catena de Vinhos em tempo integral. Como foi essa transição?

Nós tomamos o tempo de nos conhecer e de eu conhecer a Bodega.

Concordamos em quais eram os desafios, as urgências e o pontos que deveríamos cuidar.

Foi uma transição bastante natural. Nunca esperava que seria tão fácil.

Sala das Barricas Bodegas Caro
Sala das Barricas Bodegas Caro

CARO, de CAtena e ROthschild, busca conjugar duas culturas distintas, a francesa e a argentina, em um único vinho. Fale um pouco desse rótulo.

Antes de tudo, CARO não é um vinho que não produzimos todos os anos, apenas em anos realmente excepcionais.

O consumidor, assim, tem uma garantia que vai sempre encontrar um vinho excepcional.

É um grande vinho. O melhor vinho que podemos produzir com o que a natureza nos entrega.

E no ano que a natureza não nos entrega o necessário, simplesmente não o produzimos.

Como todos os grandes vinhos do mundo, é um vinho de descarte.

O que eu quero dizer com isso, é que durante todo o processo, selecionamos o melhor do melhor.  O “crème de la crème”, como dizemos em francês.

Primeiramente, fazemos um seleção dentro da parcela, onde temos diferentes zonas em função do subsolo dos vinhedos.

Pois sabemos que alguns subsolos são superiores.

Dentro desta seleção, fazemos a colheita e a vinificação separadamente.

Fazemos então um corte, que é o pré-corte do CARO e que vai para as barricas.

Após um ano, um ano e meio, de envelhecimento, passamos de barrica em barrica.

Nenhuma barrica é igual à outra, algumas vão produzir vinhos excepcionais, enquanto outras nem tanto.

A partir da seleção dessas barricas, temos os lotes que vão dar origem a CARO.

Nas Bodegas Caro temos uma grande vantagem. Não temos uma obrigação por parte da família Catena, ou da família Rothschild, de volume de produção.

Por conta disso, além de produzirmos CARO apenas em anos excepcionais, temos a liberdade de produzirmos o volume  que achamos mais adequado.

É o que realmente nos dá a capacidade de produzir um grande vinho.

Petit Caro é uma novidade das Bodegas Caro. Fale um pouco desse lançamento.

Petit Caro é um vinho que existia apenas na Argentina.

A marca Amancaya, que comercializamos em todo o mundo, não podia ser vendida na Argentina, pois havia um marca muito similar já registrada.

Assim, começamos a comercializar Petit Caro na Argentina no lugar de Amancaya.

Com o tempo notamos que em alguns mercados o nome Petit Caro chamava bastante atenção por sua beleza.

Petit Caro é um vinho do mesmo nível de qualidade, mas não exatamente o mesmo corte.

Temos um pouco de Cabernet Franc que não está presente em Amancaya.

Oferecemos este vinho em locais onde não podemos comercializar Amancaya, como em países vizinhos à Argentina.

Bodegas Caro
Bodegas Caro

Aruma é um Malbec puro com ótimo custo-benefício, como é sua produção?

Com Aruma fizemos uma coisa totalmente distinta de CARO, Amancaya e Petit Caro, que são vinhos de corte.

Decidimos fazer um Malbec que não envelhece em madeira.

Como todos os grandes vinho da casa estagiam em barrica, a intenção com Aruma foi fazer um vinho distinto, mais fácil de beber e refrescante.

Pode acompanhar uma grande variedade de pratos, mas, também, é ótimo sozinho.

Aruma é um corte de duas zonas, do Vale do Uco e de Luján de Cuyo, bastante fresco e com um perfil aromático intenso.

Buscamos uma fruta muito pura.

Precisamos de bastante concentração nos vinhedos, pois os taninos são somente aqueles que estão no vinho, não sendo adicionados pela barrica.

Assim, buscamos um vinho muito concentrado desde sua origem, com pouca produção nos vinhedos.

É um grande sucesso ao redor do mundo.

Temos várias cadeias de restaurantes que oferecem Aruma na sua carta de vinhos.

Amancaya é um vinho bastante popular no Brasil, fale um pouco deste rótulo.

Amancaya é um vinho fantástico, considerado, por muitos, como tendo o melhor custo-benefício de toda a gama.

O projeto original das Bodegas Caro nasceu com ambição de produzir dois grandes vinhos, um Grand Cru, que é CARO, e um segundo vinho, como em todos os Châteaux, que é Amancaya.

Em alguns anos, quando não produzimos CARO, Amancaya é nosso melhor vinho.

É um rótulo de grande deleite, com a complexidade e a elegância que encontramos em um Grand Cru.

Nesse ponto, cumpre todos os requisitos de um Second Vin a um preço muito mais acessível.

Existe uma nova geração de jovens que estão descobrindo os prazeres dos vinhos, como é atender esse público?

Não tenho uma bola de cristal, mas acredito que temos que trabalhar com vinhos honestos, que tenham boa relação preço-qualidade e que representem sua origem e identidade.

Precisamos também divulgar extensivamente.

No mundo do vinho existe um vocabulário que é muito enriquecedor, mas que também pode formar uma barreira para aqueles que estão adentrando.

Muitas vezes acabamos complicando coisas que não precisavam ser tão complicadas.

Temos que saber falar com essa nova geração de consumidores.


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