Jose “Pepe” Galante é um dos mais prestigiados enólogos do Novo Mundo, tendo trabalhado por mais de trinta anos na Catena Zapata.
Hoje, está à frente da enologia das Bodegas Salentein, ao mesmo tempo que comanda seu projeto pessoal, Puramun.
Galante concedeu uma entrevista exclusiva para a DiVinho, falando de sua trajetória como enólogo e do cenário vitivinícola da Argentina, confira:
Fale um pouco sobre sua trajetória profissional.
Estudei enologia em Mendoza, na Faculdade de Enologia “Don Bosco”.
A colheita de 2020 já é minha colheita de número quarenta e cinco.
Trabalhei por mais de trinta anos na Catena Zapata e já faz dez anos que estou nas Bodegas Salentein, dez anos e onze safras.
Estou muito feliz com essa jornada.
Muitos o consideram como o pai da viticultura moderna na Argentina. O que acha disso?
A partir do ano de 1990 ocorreu uma ruptura no modo de fazer vinhos na Argentina.
Começamos a priorizar a qualidade em detrimento da quantidade, acarretando uma série de mudanças e inovações em todos os aspectos da cadeia de produção.
Liderei a equipe de enologia da Catena Zapata apostando fortemente na produção de vinhos para mercados internacionais.
Fui testemunha e protagonista ativo de todas essas mudanças. Foi uma época de muitos estudos e viagens para entender nossa realidade vitivinícola.
A Malbec é hoje a uva mais emblemática da Argentina. Na sua opinião, o que fez a variedade adaptar-se tão bem ao país?
Minha opinião é que a Malbec encontrou na Argentina as condições ideais para seu desenvolvimento, expressando-se, desta maneira, melhor do que em sua região de origem.
Isso ocorre porque a Malbec prefere solos pobres, que encontrou ao pés da Cordilheira dos Andes.
A variedade é muito sensível a doenças criptogâmicas e em nosso clima continental desértico, com baixa umidade relativa, corre menos riscos.
E acima de tudo, a uva Malbec ama o sol. Sua paleta aromática necessita de exposição solar para alcançar sua maior expressão e, em nossas regiões vitivinícolas, encontrou o sol que tanto ama.
Você trabalhou por mais de trinta anos na Catena Zapata, ajudando a colocar seus rótulos entre a elite mundial dos vinhos. Fale um pouco dessa experiência.
É verdade, trabalhei por mais de trinta anos na Catena Zapata, como responsável pela enologia da vinícola.
Começamos em 1990, quando ninguém dava crédito ao potencial dos vinhos argentinos.
Foi uma etapa de grandes mudanças e transformações, em todos os sentidos, desde os vinhedos, com a implantação dos sistemas de condução. Incorporamos novas tecnologias na adega, técnicas de elaboração e envelhecimento dos vinhos.
E tudo isso aconteceu de maneira vertiginosa, um período realmente maravilhoso da viticultura na Argentina.
Enquanto trabalhava na Catena você nunca deixou de dar aulas.
Fui professor durante muitos anos da cadeira de enologia da Faculdade de Enologia “Dom Bosco”, a mesma faculdade onde estudei.
Tenho muito orgulho de ver meus alunos se destacando no exercício dessa profissão.
Nem só de tintos vive a Argentina. Quais as suas variedades brancas preferidas para trabalhar no país?
Sou um grande admirador dos vinhos da Borgonha e, nesse sentido, a Chardonnay é uma fraqueza, uma cepa pela qual tenho uma predileção especial.
Fui o primeiro enólogo argentino a produzir um Chardonnay com fermentação e envelhecimento em barricas de carvalho francês, isso por volta de 1990.
Hoje encontramos grandes expoentes dessa variedade na Argentina.
Vinhos elaborados com uvas cultivadas nas zonas altas da Cordilheira dos Andes, onde obtemos condições ideais de temperatura e umidade relativa, essenciais para obter o melhor da Chardonnay.
Desde 2010 você é o enólogo chefe das Bodegas Salentein. Como é seu trabalho na vinícola?
Gosto muito do meu trabalho nas Bodegas Salentein, pois é um projeto baseado no Vale do Uco, um lugar único e realmente especial dentro do mapa vitivinícola da Argentina.
Estamos produzindo ótimos vinhos nas Bodegas Salentein.
Hoje já sabemos muito sobre o terroir do Vale do Uco e podemos experimentar coisas novas, mas focando sempre na qualidade.
Puramun é seu primeiro projeto pessoal. Conte-nos um pouco sobre essa empreitada.
Puramum é um projeto familiar, toda minha família participa.
Junto com meus filhos e minha esposa, formamos a equipe que dá vida a esses vinhos.
Esta história começou a ser escrita em 2010, quando iniciamos a dar forma a essa ideia. Em 2011 lançamos nosso primeiro Malbec.
Todos os vinhos são feitos com uvas do Vale do Uco.
Hoje, temos quatro rótulos em nosso portfólio, um Malbec, um Cabernet Franc, um Chardonnay e um co-fermentado de Malbec e Petit Verdot.
Qual conselho você dá para aqueles que estão iniciando como enólogos?
Muito estudo, dedicação e paciência.
O que acha dos vinhos brasileiros?
Eu visitei o Brasil muitas vezes, primeiro com a Catena Zapata e agora com as Bodegas Salentein.
Tive a oportunidade de experimentar alguns vinhos brasileiros e sinto que estão ficando cada vez melhores.
Penso que isso é uma consequência da experiência adquirida com o passar do tempo e do conhecimento de nossas forças e fraquezas.
É um processo dinâmico, nutrido pelo conhecimento que alcançamos ano após ano.
E você, já provou os vinhos de Pepe Galante?