A Symington Family Estates é o grupo vitivinícola detentor da maior área de vinhedos em Portugal, com mais de 1.000 hectares na região do Douro, berço do vinho do Porto.
A família Symington, com raízes escocesas, inglesas e portuguesas, está ligada ao mundo do vinho desde meados do século 17 (ou há 14 gerações! )
Ao longo de 370 anos, construiu um verdadeiro império no Douro, com 27 propriedades e uma dezena de adegas de vinificação.
Apesar da dimensão, a Symington Family Estates é mais reconhecida pela alta qualidade de seus vinhos.
Seu portfólio reúne casas históricas do vinho do Porto (Graham’s, Cockburn’s, Dow’s e Warre’s).
Além dos vinhos da cobiçada Quinta do Vesúvio e do projeto Prats & Symington, que origina os vinhos tintos Chryseia, Post Scriptum e Prazo de Roriz em parceria com a família Prats de Bordeaux.
A Symington é líder em vinho do Porto de categorias especiais e seus tintos e brancos também são considerados entre os melhores do mundo pelos críticos internacionais.
Em visita ao Brasil, Dominic Symington, coproprietário da Symington Family Estates ao lado do irmão Paul e dos primos Johnny, Rupert e Charles, conversou com a DiVinho sobre a história do Douro e do vinho do Porto.
Como uma família de origens britânicas é um dos grandes protagonistas do vinho do Porto que, diga-se, é o mais emblemático vinho português?
Minha família tem raízes inglesas e, principalmente, escocesas e, para responder a essa pergunta, precisamos resgatar a história do vinho.
Nos séculos 16 e 17, o vinho consumido pelos ingleses era o vinho francês porque a região de Bordeaux pertencera ao reinado inglês.
No século 12, a região de Aquitânia, onde Bordeaux se situa, foi um dote da princesa francesa Eleonora da Aquitânia ao se casar com o rei Henrique II de Inglaterra.
Passados centenas de anos, os franceses retomaram a região.
E no século 17, houve um período em que não era patriótico continuar consumindo vinho francês.
Por isso, os comerciantes ingleses que já estavam a trabalhar entre Inglaterra e Portugal começaram a solicitar vinhos aos produtores portugueses.
Assim, em meados do século 17, começou a exportação de vinhos da cidade do Porto para a Inglaterra.
E estes vinhos eram chamados de vinhos do Porto.
Nessa época, eram vinhos tranquilos, ou seja, vinhos tintos.
Mas, para aguentar a longa viagem marítima até a Inglaterra, alguns comerciantes adicionavam aguardente ao vinho para estabilizá-lo.
Com o tempo, as pessoas começaram a preferir esses vinhos fortificados.
É por isso que se diz que foram os ingleses que “inventaram” o vinho do Porto?
E isso é verdade.
O vinho do Porto é um vinho português que se desenvolveu e foi lapidado conforme os pedidos do mercado inglês.
E nesta fase inicial, em meados do século 17, o consumo desse vinho acontecia exclusivamente na Inglaterra.
Nessa época, o Vinho do Porto ainda não era com o que conhecemos hoje: doce, rico, estruturado…
No início, o vinho do Porto era, simplesmente, um vinho com aguardente.
Depois, ao longo de várias experiências, passou-se a juntar aguardente durante a fermentação das uvas.
Com isso, a fermentação é interrompida, pois as leveduras não conseguem sobreviver num ambiente alcoólico elevado e morrem.
E isso acontece quando elas ainda não terminaram de converter todo o açúcar do mosto em álcool.
Por isso é que temos uma doçura mais elevada no vinho do Porto que nos tintos secos.
Sua família já participava do comércio?
Sim, não eram Symington ainda.
O meu bisavô imigrou da Escócia, em 1882, para Portugal.
Dois anos depois, ele casou-se com a Beatriz, uma luso-britânica – sua mãe era portuguesa e seu pai, inglês.
Meu bisavô se juntou ao sogro num negócio de vinhos no Douro.
Mas nosso antepassado mais antigo com ligações ao vinho, de que temos registro, remonta a 1.652, quando foi realizada uma exportação da cidade do Porto para a Inglaterra.
Ou seja, fazemos parte do início da história do Vinho do Porto.
Eu pertenço à quarta geração dos Symington no Douro, ao lado do meu irmão Paul e dos primos Johnny, Rupert e Charles.
Cinco membros da próxima geração já trabalham na empresa: meu filho e quatro sobrinhos. Criamos a holding Symington Family Estates que agrega casas históricas — Graham’s, Cockburn’s, Dow’s e Warre’s.
Mantivemos essa tradição e os nomes originais das empresas.
O “império” que a Symington construiu é impressionante: são mais de 1.000 hectares de vinhedos, 27 propriedades e nove adegas de vinificação no Vale do Douro!
Somos a maior empresa detentora de vinhedos em Portugal, com cerca de 1.050 hectares.
No final de 2019, teremos mais 30 hectares e uma nova adega, exclusivamente para vinhos tintos e brancos, está sendo construída.
Ela ficará pronta entre 2020 e 2021 e será supermoderna.
Além disso, trabalhamos com aproximadamente 1.200 lavradores independentes, de quem compramos uvas.
São nosso parceiros de longa data, eles já trabalhavam com meu pai, avô e bisavô.
Só temos dois contratos por escrito, o resto é só um aperto de mão, e funciona.
Eles confiam em nós, pois não baixamos o preço das uvas mesmo em anos de grande produção e desvalorização.
E nos anos em que o preço aumenta, mesmo que tenhamos algum acordo prévio de valor, pagamos mais.
Com isso, demonstramos um respeito em relação a eles.
E disponibilizamos um viticultor da Symington para atender exclusivamente nossos lavradores parceiros, sem qualquer custo adicional para eles.
Com tantos vinhedos próprios e de viticultores parceiros e com uma dezena de adegas para gerir, como vocês dão conta de produzir vinhos de elevada qualidade?
Cada empresa: Graham’s, Cockburn’s, Dow’s, Warre’s e Vesúvio tem a sua própria adega, seus vinhedos e equipe de viticultura e enologia.
Mantemos uma concorrência saudável dentro da empresa, cada time luta pelo seu projeto, mas todo mundo se ajuda.
Temos ao todo oito viticultores e nove enólogos, além de dois enólogos-chefe (um para todo o vinho do Porto e outro para os vinhos de mesa) e o Charles no topo.
Vocês também estão apostando em vinhedos orgânicos?
Temos 1,5% dos nossos vinhedos certificados como orgânicos.
Estamos a aprender nessas vinhas e no restante dos vinhedos aplicamos a chamada viticultura sustentável, ou seja, de mínima intervenção.
Utilizamos o que aprendemos nos vinhedos orgânicos nos outros, mesmo assim, não pretendemos certificar todos os vinhedos porque precisamos de uma certa flexibilidade de ação em anos de muita chuva e umidade, pois isso também é um negócio.
Apesar de querer fazer o máximo possível de viticultura orgânica, temos de ter uma salvaguarda para, num ano de condições adversas, garantir o nosso cultivo.
A Symington tem uma tanoaria própria. Isso não é muito comum…
Algumas empresas têm recomeçado com as suas tanoarias atualmente, mas nós sempre mantivemos a nossa.
Temos oito tanoeiros e fazemos pessoalmente toda a manutenção dos nossos cascos e balseiros.
A madeira é fundamental no processo de envelhecimento do vinho do Porto e é muito importante que ela esteja em boas condições.
Com o tempo, formam-se sedimentos de ácido tartárico no barril de vinho do Porto.
Você já deve ter visto em algumas rolhas depósitos que parecem cristais de açúcar – isso é o ácido tartárico.
É um ácido natural que existe em toda a fruta. Só que ele vai criando uma película no interior da barrica que dificulta a passagem do ar, que é importantíssimo para amaciar os taninos do vinho do Porto.
Por isso, todas as nossas barricas são desmontadas de cinco em cinco anos, lavadas com água e vapor e reconstruídas novamente.
E nós temos 27 mil barris de vinho!
São cascos de 80 a 100 anos, pois para o Vinho do Porto não queremos madeira nova.
Por que madeira nova não é indicada para envelhecer o vinho do Porto?
Para o vinho do Porto, a intenção não é transferir taninos ou aromas da madeira para o vinho, como no caso do vinho tinto ou branco.
Por causa da natureza do terroir do Douro e das castas que nós temos, por si só, já conseguimos vinhos muito estruturados e com um perfil muito mineral, uma acidez acentuada e um tanino muito presente.
E como o envelhecimento do vinho do Porto acontece, na maior parte, durante muitos anos – há Tawny de 20, 30 ou 40 anos em barril –, se fosse madeira nova, o vinho estaria praticamente imbebível.
Por isso, em primeiro lugar, temos de ter barris avinhados, ou seja, deixamos vinhos jovens durante três ou ou quatro meses e vamos substituindo por outro vinho jovem ao longo de quatro até seis anos.
Só, então, esse barril está pronto para estágios mais prolongados.
É possível replicar o vinho do Porto em outra região do mundo?
O vinho do Porto é um vinho DOC, de denominação de origem.
Ele é produzido na região do Douro, que tem um terroir, um microclima e uma definição geográfica única, talvez mais marcante e mais distinta que qualquer outra região vitivinícola do mundo.
É um vale extraordinário, a maior região de vinhas de montanha do mundo – a quantidade de vinhedos naquelas montanhas escarpadas corresponde a metade de vinhas de montanha do mundo inteiro!
E isso faz a diferença.
Há vinhos fortificados tipo vinho do Porto produzidos em outras regiões. Podem ser bons, mas não são vinho do Porto.
É difícil entender as diferentes categorias de Vinho do Porto. Você pode, por favor, explicar para a gente?
Todo vinho do Porto quando nasce é um Rubi, ou seja, um vinho muito encorpado, com cor de vinho tinto, um vermelho quase negro ou quase azulado.
Portanto, o vinho do Porto jovem é chamado de Rubi.
Conforme ele vai envelhecendo em balseiros, de 50 a 90 mil litros, ele evolui em sabor, aroma e em cor.
Dentro da família do Rubi, temos o Rubi e o Reserva Rubi, sendo que a diferença entre os dois é, simplesmente, a melhor qualidade das uvas no caso do Reserva.
Ambos são vinhos de lote com dois ou três anos de envelhecimento em balseiros muito grandes.
Já o LBV (Late Bottled Vintage) é muito semelhante ao Reserva, mas é safrado, de um só ano.
Em termos de envelhecimento, o LBV pode ter de quatro a seis anos em balseiros grandes.
E, na família do Rubi, temos ainda o Porto Vintage, que é a cereja do bolo.
É uma seleção limitadíssima dos melhores lotes daquela safra.
Um Vintage nunca corresponde a mais do que 5% da produção total de vinho do Porto do ano, portanto, é uma coisa muito especial.
Ele é engarrafado com um ano e meio a dois anos de envelhecimento.
Ao contrário do Rubi, Reserva Rubi e LBV, que são engarrafados prontos para o consumo, mas também podem ser mantidos na adega por três ou quatro anos sem problema nenhum, o Vintage, diferentemente, evolui com o envelhecimento na garrafa.
Então, você vai me perguntar: quando é ideal abrir a garrafa?
Isso depende do gosto pessoal: se você prefere um vinho mais macio ou um mais encorpado.
Quando se bebe o Vintage muito jovem, logo após seu lançamento, tem-se uma explosão de sabores e aromas.
É mesmo extraordinário, uma aventura.
Com cinco a sete anos de garrafa, o Vintage entra na sua adolescência e, depois de dez ou doze anos, estará mais maduro.
É como uma pessoa, praticamente.
E por quanto tempo podemos envelhecer um vinho do Porto Vintage?
Não há fim, eu já bebi vinhos de 150 anos!
Mas, eu diria que, normalmente, a volta dos vinte ou trinta anos já temos um grande vinho.
Um vinho do Porto Vintage é um dos vinhos míticos do mundo.
E ainda há os vinhos do Porto Tawny, que representam um outro estilo de vinho do Porto!
Um Tawny é, simplesmente, um Rubi envelhecido.
Ao longo do envelhecimento do vinho em madeira, há contato com o oxigênio do ar que passa por osmose pelos poros do barril.
Micropartículas de oxigênio interagem com os componentes do vinho: amaciam os taninos e oxidam os componentes corantes, e o vinho passa de vermelho para uma cor mais alaranjada.
Essa cor é chamada de tawny.
Com o envelhecimento, o vinho também perde aqueles aromas de frutas primárias e assume aromas de frutas secas, nozes, ligeiramente caramelizados.
Os Tawny são vinhos mais elegantes e delicados que os da categoria Rubi.
Dentro dos Porto Tawny, temos o Tawny corrente, o Tawny Reserva, com sete a oito anos de envelhecimento.
Então, há os Tawny com indicação de idade: 10, 20, 30 e 40 Anos.
Tanwy 10 Anos quer dizer que o lote tem uma média de 10 anos de envelhecimento.
Portanto, um 10 anos pode ter vinhos de nove a 12 anos de envelhecimento mas, tecnicamente, é um vinho no estilo de 10 Anos.
Para mim, os Tawny são perfeitos para o clima do Brasil, pois eles devem ser bebidos frescos.
Eu, por exemplo, sirvo os Tawny direto da minha geladeira.
Que combinações com comida você sugere?
Os vinhos da família Rubi ligam muito bem com sobremesas de frutas vermelhas (que têm acidez elevada) e com tudo quanto é chocolate – eu, pessoalmente, gosto de chocolate até 80% a 85% de cacau.
Já o Porto Tawny 10 é fabuloso com torta de amêndoa.
Tawny com fruta branca assada no forno (pera ou maçã) é, simplesmente, incrível.
A Symington, recentemente, comprou vinhedos no Alentejo. É um novo desafio?
Foi um grande passo para nós, pois temos 370 anos de experiência no Douro e zero no Alentejo.
Compramos uma propriedade de 43 hectares de vinhedos, em fevereiro de 2017, e já fizemos uma vindima naquele ano.
O projeto se chama Quinta da Fonte Souto – souto, em português de Portugal, significa floresta de castanheiro.
Fica na sub-região de Portoalegre, que é um outro Alentejo, eu diria que é um Alentejo mais clássico.
Nosso vinhedos estão situados em uma altitude entre 450 e 540 metros.
Portanto, conseguimos uma ótima amplitude térmica entre dia e noite, o que é a melhor coisa que pode haver para a vinha.
Garantimos maturação das uvas durante o dia e repouso à noite, com isso temos vinhos marcados por uma frescura distinta dos vinhos do Alentejo em geral.
Você encontra os melhores vinhos da Symington Family Estates na DiVinho! E você, já provou os rótulos da vinícola?