A Quinta do Crasto é um dos maiores nomes dentro da região vitivinícola do Douro, em Portugal.
Tomás Roquette, Administrador e membro da família proprietária da Quinta do Crasto, concedeu uma entrevista exclusiva para a DiVinho, falando da história da vinícola, do método de pisa a pé e de seus renomados vinhos, como Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas, confira:
A Quinta do Crasto está nas mãos da sua família há mais de um século. Conte-nos um pouco dessa história.
As primeiras referências à Quinta do Crasto são de 1615.
A propriedade passou por vários donos até que o meu bisavô por parte de mãe, Constantino d’Almeida, adquiriu a propriedade em 1918.
Ele era já uma referência no mundo dos vinhos, sendo fundador da Casa de Vinhos do Porto e Brandy Constantino.
Depois dele, foi meu avô, Fernando Moreira d’Almeida quem assumiu a gestão da propriedade, mantendo a produção de vinhos do Porto.
Após a sua morte, meus pais assumiram a maioria do capital da propriedade, dando continuidade ao projeto.
Hoje, faço parte da quarta geração da família, sendo que a quinta geração já existe com os meus filhos e os filhos dos meus irmãos.
O que mudou quando seus pais, Leonor e Jorge Roquette, assumiram a vinícola em 1981?
Nessa época regressamos a Portugal, depois de uma temporada de seis anos no Brasil, iniciado um extenso processo de remodelação e expansão das vinhas, idealizado e concretizado pelo meu pai.
Mas tudo começou verdadeiramente em 1994, com a arrancada do projeto de produção de Vinhos do Douro de Denominação de Origem Controlada (Douro D.O.C.).
No ano 2000 empreendemos um projeto ambicioso no Douro Superior, com a aquisição dos primeiros terrenos que hoje compõe a Quinta da Cabreira, totaliza mais de cento e quatorze hectares de vinhedos.
Nos últimos anos temos feito importantes investimentos na modernização das vinhas, que é o fator mais importante para a qualidade dos nossos vinhos, e das instalações de vinificação, o que nos tem permitido consolidar a produção de vinhos, ano após ano.
O Enoturismo também tem sido uma aposta forte.
No ano passado recebemos cerca de seis mil visitantes, a grande maioria oriunda do Brasil e de países europeus.
Hoje, somos uma referência incontornável para o Enoturismo em Portugal.
Para todo este percurso tem sido fundamental o trabalho de uma equipe sólida e a paixão que diariamente é aplicada por todos na elaboração de nossos vinhos.
O Douro é uma das mais renomadas regiões vitivinícolas de Portugal. Quais os segredos desse célebre terroir?
Diria que o Douro é uma das mais renomadas regiões vitivinícolas do mundo.
É a primeira região demarcada do mundo, em 1756, pelo Marquês de Pombal; sobreviveu à filoxera, que dizimou parte da região há mais de um século; e, contra todas as adversidades, conseguiu manter uma identidade muito própria.
É uma região difícil, com solos maioritariamente xistosos, diferentes altitudes e acentuados declives, diferentes exposições solares, onde os processos de produção são todos praticamente manuais.
O Douro é um intrincado quebra-cabeças, composto por diferentes castas.
Para se ter uma ideia, só na Vinha Maria Teresa, um vinhedo centenário e um dos mais antigos da nossa propriedade, foram identificadas mais de cinquenta variedades, através de um trabalho de identificação genética que estamos empreendendo.
No Douro, cada vinha é uma peça diferente e que tem que ser tratada de forma diferente.
Conseguimos trabalhar cada videira quase que individualmente, o que permite alcançar em cada uma delas excelentes níveis de maturação.
Toda esta complexidade resulta em vinhos absolutamente únicos.
A vinícola ainda utiliza o tradicional método de pisa a pé nos lagares de granito. Como esse processo influencia na qualidade dos vinhos?
A principal característica da pisa a pé é que com este método de extração suave nunca seremos capazes de esmagar verdadeiramente as grainhas das uvas, respeitando, assim, toda a identidade e integridade do bago, não adicionando uma adstringência desnecessária ao vinho.
Com a pisa a pé, consegue-se vinhos mais elegantes e equilibrados. Apesar de ser um método ancestral. continua a ser justificada sua utilização pelo excelente resultado final.
Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas é um verdadeiro ícone da vinícola. Fale um pouco sobre esse grande rótulo.
O Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas é talvez o vinho mais icónico da marca, sendo reconhecido nacional e internacionalmente, com uma excelente relação qualidade/preço.
É um rótulo que temos engarrafado anualmente desde 1994, com uma produção média anual entre oitenta e noventa mil garrafas.
Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas representa perfeitamente a identidade do Douro.
Produzido com uvas provenientes de um field blend de mais de trinta castas de vinhas velhas, com setenta anos de idade média.
É um rótulo que apresenta uma grande complexidade e concentração, resultantes das baixas produções, características das vinhas velhas.
Com madeira muito bem integrada, advinda do estágio de dezoito meses em barricas de carvalho francês e americano.
Um vinho intenso e profundo, com uma estrutura sólida e enorme potencial de evolução em garrafa.
Crasto Tinto, Branco e Rosé são rótulos de excelente qualidade em sua faixa de preço. Como é sua produção?
A gama Crasto é a porta de entrada para a nossa marca.
São vinhos jovens, com um perfil muito versátil, de enorme frescura.
Tudo começou com o Crasto Tinto e o último a ser idealizado foi o Crasto Rosé.
São produzidos anualmente e o Crasto Tinto é a referência da marca com maior número de garrafas produzidas, cerca de quatrocentas mil garrafas. No Crasto Branco a produção é de cerca de cento e vinte mil garrafas.
Já para o Crasto Rosé a produção é de cerca de vinte e cinco mil garrafas.
Crasto Superior é outra gama de sucesso. Quais vinhos a compõem?
A gama Crasto Superior é, neste momento, composta por três vinhos: o Crasto Superior Tinto, lançado em 2008, o Crasto Superior Branco, lançado em 2014 e o Crasto Superior Syrah, lançado em 2015.
Produzidos com uvas oriundas exclusivamente da Quinta da Cabreira, no Douro Superior.
São vinhos com um caráter mais internacional, mas que expressam as características únicas deste terroir.
Os três rótulos fazem estágio em madeira, o que lhes confere grande complexidade aromática.
O Crasto Superior Syrah, que é um vinho Regional Duriense, resulta de várias experiências na plantação de castas não autóctones, em uma estratégia voltada para a inovação e internacionalização, que veio demonstrar o comportamento excepcional da casta Syrah no Douro Superior.
A Quinta do Crasto produz excelentes vinhos do Porto, como Colheita, Vintage e Reserve. Fale um pouco desses rótulos.
A Quinta do Crasto tem, neste momento, três vinhos do Porto Ruby, Vintage, LBV e Finest Reserve, e um Tawny, Colheita.
Na elaboração dos nossos vinhos do Porto continuamos a manter a tradição de pisar as uvas nos antigos lagares de pedra.
O Quinta do Crasto Finest Reserve é um vinho do Porto Ruby Reserva, com envelhecimento médio de três anos em tonéis de carvalho português.
É intensamente frutado, muito elegante e fresco, com uma fantástica relação qualidade/preço.
O LBV (Late Bottled Vintage) é um vinho do Porto de uma só colheita, engarrafado após quatro a seis anos de envelhecimento em tonéis de carvalho português.
Os nossos LBV caracterizam-se pela sua coloração rubi escura, com boa concentração e persistência.
São engarrafados sem qualquer filtração, o que permite manter as suas características e uma boa evolução na garrafa.
Já os nossos Vintage caracterizam-se pela coloração muito escura, quase opaca, e aromas intensos de fruta muito madura.
São engarrafados sem filtração, após dois anos de estágio em carvalho português.
São vinhos muito complexos e persistentes, com uma notável longevidade.
O Quinta do Crasto Colheita é um Tawny velho produzido a partir de uma única colheita, com uvas provenientes exclusivamente de vinhas velhas da Quinta do Crasto.
Envelhece em cascos de carvalho desde o ano da colheita até ao seu engarrafamento.
Este vinho é uma homenagem da quarta geração da família ao meu avô, Fernando Moreira d’Almeida.
Existe uma nova geração de jovens que estão descobrindo os prazeres dos vinhos, como é atender esse público?
Felizmente, essa é uma realidade e também uma oportunidade.
As gerações mais jovens veem no vinho uma experiência única, com uma história contada em cada garrafa.
Para além disso, o vinho é, hoje, reconhecidamente uma alternativa mais saudável, quando comparado a outras bebidas alcóolicas.
Você passou vários anos no Brasil. Qual a sua opinião acerca dos vinhos brasileiros?
O Brasil tem passado por uma grande evolução no setor vitivinícola, não sendo um país com muita tradição no mundo dos vinhos.
Acredito que os produtores nacionais têm sabido adaptar a sua produção às características muito singulares do terroir brasileiro.
Quais rótulos da Quinta do Crasto você recomenda para quem está conhecendo a vinícola?
Uma excelente forma de iniciar a relação com os vinhos do nosso portfólio é a gama Flor de Crasto, pelo seu preço acessível.
De qualquer forma, sempre é importante evoluir e conhecer os outros rótulos, pois estes apresentam características diferentes, até mesmo no próprio estilo.
Acho importante lembrar também de um vinho que resulta de uma parceria com a família Cazes, do Chateau Lynchs-Bages, de Bordeaux, o fantástico Roquette & Cazes.
Complementando, recomendo também experimentar nossos vinhos do Porto.
Você encontra os melhores vinhos da Quinta do Crasto na DiVinho! E você, já provou os rótulos da vinícola?