Herdade do Esporão é uma das mais tradicionais vinícolas do Alentejo.
Sandra Alves, Enóloga da Herdade do Esporão, concedeu uma entrevista exclusiva para a DiVinho, falando do renomado terroir alentejano, do modelo de produção biológico e de seus renomados vinhos, como Monte Velho, Esporão Reserva e Esporão Pé, confira:
Herdade do Esporão é considerada como a vinícola que colocou a região do Alentejo no mapa-múndi do vinho moderno. Conte-nos um pouco de sua história.
Em um canto até então esquecido do interior alentejano nasceu um dos modelos de negócio mais distintivos na história da produção de vinhos em Portugal.
Na Herdade do Esporão, uma tradicional casa de vinhos, passaram-se sete séculos sem que nada de muito interessante acontecesse, mas no último meio século tudo mudou.
O Esporão evoluiu, teve as suas dores de crescimento, foi-se reinventando e, com naturalidade, estendeu-se para além dos limites da herdade.
O primeiro grande salto evolutivo aconteceu nos anos oitenta, com a criação do Monte Velho.
Uma marca que trouxe novidades ao nível da enologia, utilizando a tecnologia para permitir a estabilização de lotes.
Dando origem a um vinho que é um símbolo de excelência, mas sem perder a acessibilidade.
Um fator determinante na criação de valor do Monte Velho foi a dinamização de um ecossistema de produtores com uma identidade que definia própria região do Alentejo, na época ainda fora do mapa das referências mundiais de vinhos de qualidade.
Esta nova forma de coopetição (ambiente onde a cooperação e a competição estão em equilíbrio) entre pequenos e grandes produtores possibilitou elevar o perfil socioeconômico, cultural e ambiental dos vinhos do Alentejo, com uma ampla disseminação de conhecimentos técnicos de boas práticas agrícolas, uma melhor compreensão das dinâmicas dos mercados e da capacidade de mobilização da marca.
Na década de noventa iniciou-se um processo de redefinição das castas com maior procura dos mercados mais exigentes, mas sem deixar de levar em consideração a necessidade dessas variedades cumprirem critérios de adaptação ao clima e ao terroir.
Esta estratégia veio revalidar a importância do Esporão Reserva e fomentar o surgimento de outras gamas de referência, como Private Selection e Monocastas.
Simultaneamente, no campo prosseguia a adoção de métodos de produção mais sustentáveis com base na proteção dos solos, da água e dos organismos benéficos para as culturas.
Usando, comparativamente, menos recursos naturais e com menor impacto ambiental, algo que tornou-se essencial no modelo de negócio.
A entrada do novo milênio trouxe um novo salto evolutivo, marcado pelos primeiros planos de sustentabilidade.
Surgiram as primeiras ideias, planos, boas práticas e investimentos que mais tarde determinariam a aposta na agricultura biológica e na proteção da biodiversidade, adaptação e mitigação climática.
O foco se manteve na produção de vinhos e azeites mais interessantes e saudáveis, tanto para o ecossistema, quanto para as pessoas e a sociedade.
A partir de agosto de 2019 toda a área de vinhedos da Herdade do Esporão, quinhentos hectares, foi certificada em modo de produção biológica.
O Alentejo é uma das mais renomadas regiões vitivinícolas de Portugal, configurando uma Denominação de Origem Controlada (D.O.C.). Quais os diferenciais desse célebre terroir?
O Alentejo é a maior província de Portugal. Vasto e diferenciado, abrange oito sub-regiões com direito a Denominação de Origem (D.O.).
A Herdade do Esporão está situada na D.O.C (Denominação de Origem Controla) Reguengos de Monsaraz, cento e setenta quilômetros a sudeste de Lisboa.
Os terrenos são pobres e pedregosos, com afloramentos rochosos que marcam a paisagem.
Os solos são xistosos e o clima é continental, com invernos muito frios e verões extremamente quentes.
Estas características dão origem a vinhos intensos, encorpados e poderosos, com grande capacidade de envelhecimento
A Herdade do Esporão apresenta condições únicas para a agricultura, grandes amplitudes térmicas, solos pobres e variados, além de uma extraordinária biodiversidade.
Na propriedade estão plantadas cerca de quarenta castas, quatro variedades de azeitona, pomares e hortas.
Estes fatores, aliados a um continuado estudo do ecossistema e ao conhecimento enológico da equipe da Herdade do Esporão, são fundamentais para a obtenção dos melhores vinhos que a natureza pode proporcionar.
A Herdade do Esporão também conta com uma propriedade no Douro, a Quinta dos Murças. Como funciona esse projeto?
A Herdade do Esporão comprou a Quinta dos Murças há onze anos.
A Quinta dos Murças está localizada no norte de Portugal, na mais antiga D.O.C (Denominação de Origem Controlada) do mundo, o Douro, estabelecida em 1756.
Na fronteira entre as sub-regiões do Baixo e do Cima Corgo, do lado direito do rio Douro, percorrendo 3,2 quilômetros de margem de rio, entre a Régua e o Pinhão.
A Quinta dos Murças conta com cento e quarenta e cinco hectares, oito hectares são ocupados por vinhedos com castas autóctones.
Além das vinhas, as oliveiras, laranjeiras, amendoeiras e a mata mediterrânica potenciam a biodiversidade existente e promovem o equilíbrio do ecossistema.
É um lugar único pela sua beleza, mas também pela diversidade dos seus oito terroirs, marcados por diferentes altitudes, exposições solares, tipos de solos xistosos e vinhas maioritariamente verticais.
Na Quinta dos Murças, em 1947, foi plantada a primeira vinha vertical do Douro.
A combinação destes fatores, o clima extremo, característico do vale do Douro, com as práticas agrícolas de máxima precisão, que respeitam a natureza, e os diferentes processos de vinificação, que privilegiam o caráter original dos frutos, resultam em vinhos concentrados, elegantes e de grande frescura, a expressão máxima do nosso terroir.
Além da Quinta dos Murças, a Herdade do Esporão adquiriu a Quinta do Ameal em setembro de 2019.
Localizada no Vale do Lima, dentro da região dos Vinhos Verdes, é uma antiga propriedade que remonta a 1710.
De rara beleza natural, a Quinta do Ameal conta com trinta hectares, com quatorze hectares ocupados por vinhedos da casta Loureiro, que seguindo práticas biológicas, produzem uvas excepcionais, dando origem a vinhos brancos únicos.
O portfólio da Quinta do Ameal é composto pelos vinhos Ameal Loureiro, Quinta do Ameal Solo Único, Quinta do Ameal Escolha, Ameal Espumante e Ameal Colheita Tardia.
Para além dos vinhedos, a Quinta do Ameal conta com oito hectares de floresta composta por uma enorme variedade de árvores.
As casas, jardins e mais de oitocentos metros de margem do Rio Lima completam este território.
O projecto Ameal Wine & Tourism foi lançado em 2015 e é composto por duas casas renovadas no final de 2014.
É um enoturismo de conforto, de simplicidade, genuíno e onde é possível realizar um conjunto de atividades, como a degustação de vinhos, passeios de bicicleta e caminhadas na ecovia ao longo do rio Lima.
Torre do Esporão é um vinho realmente especial, com apenas três safras lançadas até o momento. Qual foi a inspiração por trás desse grande rótulo?
Torre do Esporão nasceu da vontade de mostrar a originalidade do terroir da Herdade do Esporão.
Produzido apenas em anos muito especiais, oriundo de vinha velhas, com quarenta e cinco anos de idade, unindo o know how das equipes agrícola e enológica, para produzir um vinho realmente único!
Esporão Reserva Tinto e Branco são rótulos icônicos da Herdade do Esporão. Fale um pouco desses vinhos.
Esporão Reserva Tinto e Branco são clássicos da Herdade do Esporão, que foram produzidos pela primeira vez em 1985.
Desde essa primeira safra, a Herdade do Esporão aposta na diferenciação, aliando a cultura universal do vinho à arte, através da reprodução, no rótulo, de uma obra original de um artista plástico.
Foram vários os artistas que contribuíram com as suas obras ao longo do tempo.
Como Manuel Cargaleiro, Dórdio Gomes, João Hogan, Júlio Resende, Júlio Pomar e o brasileiro Rubens Gerschman, em uma das edições especiais.
Esporão Reserva Tinto é um vinho rico e encorpado, com coloração intensa, marcado, no nariz, pelos aromas de frutos silvestres e cacau fresco, combinados a um leve toque de especiarias.
Com um paladar longo e persistente, revela intensidade e estrutura acentuadas.
Esporão Reserva Branco é um vinho que resulta da criteriosa seleção de uvas típicas do Alentejo, Arinto, Antão Vaz e Roupeiro, oriundas da Herdade do Esporão.
Com um aspecto cristalino, de coloração palha com reflexos esverdeados, revela, no nariz, aromas ricos de toranja e limão, além de toques de especiarias.
Na boca é cremoso, com boa estrutura e volume, revelando um excelente equilíbrio. O final é longo e elegante.
Esporão Pé é um linha com excelente custo-benefício e uma das gamas mais vendidas da DiVinho! Como é sua produção?
O objetivo da gama Esporão Pé é proporcionar um vinho de perfil fresco e frutado.
É obtido a partir de uma variedade de lotes de vinhos que permitem assegurar qualidade e consistência permanente.
A produção contempla o blend de várias castas, com fermentação em cubas de inox, sob temperatura controlada, estabilização e filtração, seguida do engarrafamento.
Monte Velho é um rótulo que reflete o Alentejo em sua essência. Fale um pouco desse vinho.
Monte Velho representa uma fiel expressão do vinho alentejano.
Nascido na Herdade do Esporão, estende-se a diferentes sub-regiões do Alentejo, com diferentes tipos de solo, exposições solares, altitudes e vinhas.
Monte Velho é representado por vinte e sete castas tintas e vinte três castas brancas, suportadas por práticas sustentáveis.
Toda esta diversidade, própria do Alentejo, resulta em vinhos genuínos e agradáveis de beber.
Na sua opinião, quais as diferenças entre o estilo de viticultura do Novo Mundo e do Velho Mundo?
A produção de vinhos no Novo Mundo é mais descomplicada.
Tem como objetivo principal proporcionar bons vinhos, com perfis diretos e fáceis de entender. Por conta disso, muitas vezes, é utilizado um número reduzido de variedades.
Já o Velho Mundo produz vinho há muitos séculos.
O processo de produção é mais complexo, acumulando o conhecimento de diferentes castas, solos, pessoas e regiões.
Os vinhos do Novo Mundo são, em sua maioria, mais complexos e menos óbvios.
Tendo, muitas vezes, um entendimento mais difícil, mas sempre com uma identidade ligada ao terroir e à origem da uva.
Existe uma nova geração de jovens que estão descobrindo os prazeres dos vinhos, como é atender esse público?
É desafiante e enriquecedor.
Os jovens consumidores estão cada vez mais informados e exigentes.
São consumidores ocasionais, de fim de semana, mas que procuram vinhos diferenciados e genuínos.
Quais rótulos da Herdade do Esporão você recomenda para quem está conhecendo a vinícola?
Recomendo experimentar Monte Velho Branco e Tinto, Esporão Colheita Branco e Tinto, Esporão Reserva Branco e Tinto, e Esporão Private Branco e Tinto.
Você encontra os melhores vinhos da Herdade do Esporão na DiVinho! E você, já provou os rótulos da vinícola?
