Philippe de Nicolay Rothschild, dos Domaines Barons de Rothschild, concedeu uma entrevista exclusiva para a DiVinho.
Philippe fala da história da família Rothschild no mundo dos vinhos, do icônico Premier Grand Cru Château Lafite Rothschild e de outras importantes propriedades do grupo, como Château Duhart-Milon, Château L’Évangile e Domaine d’Aussières, confira:
Domaines Barons de Rothschild é um dos mais tradicionais nomes no mundo dos vinhos. Conte um pouco dessa história.
A história da família Rothschild no mundo dos vinhos começou em 1853. Meu tataratio, o Barão Nathaniel Rothschild, comprou o Château Mouton, que depois virou Château Mouton Rothschild.
Seu irmão mais novo, o Barão James de Rothschild, comprou em leilão o Château Lafite, em 1868, que virou Château Lafite Rothschild.
Desde essas duas importantes datas na história do vinho francês, trabalhamos fazendo um desenvolvimento dos vinhos de Bordeaux no mundo.
Em 1962 compramos a propriedade ao lado do Château Lafite, o Château Duhart-Milon. Depois em 1984 adquirimos o Château Rieussec, e em 1990, o Château L’Évangile, que está situado ao lado do Château Petrus.
Ou seja, focamos em comprar sempre as melhores propriedades sem fazer concorrência com o carro-chefe do grupo, que é o Château Lafite.
Em 1989, adquirimos uma parte majoritária de uma vinícola no Chile chamada Viña Los Vascos.
O rótulo produzido lá, Los Vascos, é hoje reconhecido como um dos melhores vinhos chilenos, graças a um trabalho em equipe de Lafite em conjunto com os enólogos locais.
Esse vinho tem uma qualidade rara, acabamos mudando muito o jeito de produzi-lo, tanto que temos orgulho de apresenta-lo para vendas.
Ainda na América do Sul, fizemos também uma parceria com Nicolás Catena, na Argentina, de onde saiu a Bodegas Caro ( “Ca” de Catena e “Ro” de Rothschild).
E esse ano saiu a primeira safra da nossa mais nova aquisição, o Domaine de Long Dai, no vilarejo de Long Dai, na China.
Quando lançamos, o sucesso foi tão grande, que vendemos rapidamente toda a produção, de 20 mil garrafas.
Essa é a história do grupo Lafite, resumidamente. Mas, além disso, temos uma gama inteira que se chama Réserve.
São vinhos feitos por nós, mas com uvas compradas de outras propriedades.
É uma gama mais acessível, que faz sucesso mundialmente.
Importamos com exclusividade para o Brasil, sendo bastante solicitada por lojistas e restaurantes.
Ela tem a qualidade, a história e o “savoir-faire” do grupo Lafite, a um preço que permite aos clientes comprar uma garrafa para beber no dia a dia.
Como foi a aquisição do Château Duhart-Milon e Château L’Évangile?
Existem duas maneiras de se comportar na vida: você pode ficar com um único diamante, ou pode começar a fazer um colar de diamantes.
Nós seguimos a segunda opção.
O Château Duhart-Milon foi adquirido em 1962 por uma oportunidade. Estava em um estado deplorável e nós replantamos todos os vinhedos.
A diferença de qualidade do Duhart-Milon entre 1990 e 2005 é uma coisa impressionante. O Château Duhart-Milon é um Quatrième Cru Classé.
Mas, hoje, quem prova em um teste cego diz que é um Troisième Cru Classé.
Já o Château L’Évangile foi um sonho nosso.
A proprietária não queria vender, mas ela entendia que os filhos não tinham o mesmo amor pelo negócio.
E ela respeitava muito meu primo Henrique Rothschild, assim adquirimos 70% da propriedade.
Ela cuidou do Château L’Évangile até o último dia de sua vida. Trabalhamos muito depois da sua morte, comprando a parte dos herdeiros.
O Château L’Évangile é um dos vinhos menos conhecidos no Brasil, mas para mim e para muitas pessoas que realmente entendem, faz parte dos três melhores Pomerol que existem.
Quando você olha o preço de uma garrafa de L’Évangile e o preço de uma garrafa de Lafite, o custo-benefício de L’Évangile é melhor do que de Lafite.
E por ter em sua composição 80% Merlot e 20% Cabernet Franc, é um vinho um pouco mais fácil de beber e que pode ser apreciado mais cedo.
Ou por vontade, ou por chance, com o lucro de Lafite, compramos esses outros Châteaux.
Domaine d’Aussières é outra propriedade histórica.
Domaine d’Aussières é completamente diferente.
É uma das vinícolas mais antigas de Languedoc-Roussillon, no sul da França.
Também era uma propriedade que estava bastante mal cuidada e exigiu um trabalho em longo prazo.
Hoje, Château d’Aussières é um vinho que custa cerca de R$ 250,00 e ouvimos clientes comentando que pagariam R$ 700,00 ou R$ 800,00 por ele.
Em Lafite não temos muita liberdade para mudanças.
Existe uma demanda de vinte milhões para apenas duzentas mil garrafas.
Nos outros vinhos buscamos colocar um preço em linha com sua qualidade, um preço razoável.
Não é porque tem o nome Rothschild que o cliente deve pagar um preço premium. Château d’Aussières é ideal para o paladar brasileiro.
Procure e beba, depois você vai me agradecer.
Château Lafite Rothschild é um Premier Grand Cru segundo a histórica classificação de vinhos de 1855. Como esse fato impacta na história do Château ainda hoje?
Além de ser classificado como um Premier Grand Cru na classificação de 1855, Château Lafite há muito já era conhecido como o Premier entre os Premiers.
A resposta é simples, você precisa trabalhar, trabalhar e trabalhar.
Cuidar de cada parcela como se fosse o primeiro dia.
A técnica moderna ajuda a fazer com que cada safra seja a melhor possível.
Eu não falo que todas as safras vão ser excepcionais, mas hoje não temos mais nenhuma desculpa para estragar uma safra.
Óbvio que Lafite precisa ser o melhor possível, pois Lafite é a base pela qual mensuramos todos os nossos outros vinhos.
Os vinhedos do Château Lafite Rothschild estão localizados em um terroir excepcional, qual o segredo?
Quatro letras: DEUS. Não tem explicação.
Lafite tem quarenta e duas parcelas, mas nem todas as parcelas são iguais. Temos vinte e cinco parcelas que todos os anos são Lafite.
E parcelas que às vezes são Lafite ou Carruades, que é o segundo rótulo.
Deus colocou aquela colina lá e colocou o sol deste lado, é o mistério e a beleza destes grandes Châteaux.
Depois o ser humano achou que a melhor uva para plantar nesse lugar seria a Cabernet Sauvignon e a Merlot.
Mas não tem nenhuma explicação. Eu poderia entrar na geologia, na composição do solo.
Mas é um fato milagroso e misterioso que deve continuar assim.
O Vinho Château Lafite Rothschild é um rótulo histórico e icônico, como é sua produção?
Nós fazemos uma coisa interessante: praticamos a viticultura, com chuva, com sol, em um bom momento, em um momento ruim, etc.
Colhemos e selecionamos uva por uva, parcela por parcela, e depois fazemos a vinificação.
Em meados de dezembro começamos a fazer o corte, a assemblage, como chamamos em francês.
Começamos com cerca de 150/200 assemblages, e depois de muitas provas selecionamos umas 30/40.
Em meados de fevereiro, sobram três amostras e é nesse momento que três pessoas – o enólogo, meu primo Henrique e agora sua filha Saskia – provam essas três assemblages e decidem qual vai ser a amostra final que vai fazer o Grand Vin do Château Lafite.
Só que não sabemos qual o rendimento dessa safra.
Para dar um exemplo, 2016 é uma super safra, já 2017 foi uma safra mais complicada, produzimos trinta mil garrafas a menos para manter a qualidade.
E é assim que você faz um Premier Grand Cru e se mantém como um Premier Grand Cru.
Carruades de Lafite é o segundo rótulo do Domaines Barons de Rothschild, fale um pouco desse vinho.
Todos os Châteaux hoje fazem o Grand Vin, o primeiro vinho, e um segundo rótulo.
Só que com o aumento do preço do Grand Vin mais e mais pessoas passaram a procurar o segundo vinho.
Antigamente, a relação entre o preço do Grand Vin e do segundo rótulo era de ¼, cerca de 25%.
Hoje a relação passou para ⅓, cerca de 33%.
Uma garrafa de Carruades de Lafite representa 75% da qualidade do Château Lafite por 33% do preço.
É um ótimo negócio.
As linhas Légende, Saga e Réserve Spéciale representam uma união entre a tradição e a modernidade. Conte-nos um pouco sobre esses vinhos.
Todas essas linhas agora serão vendidas sob apenas dois rótulos no Brasil.
Eu insisti para mantermos a Réserve Spéciale, porque para o cliente que compra ele tem um pouco do espírito do Château.
É uma lembrança do rótulo de Lafite.
É uma gama que estamos ampliando, antigamente tinha Bordeaux, Médoc, Pauillac e saiu Saint-Émilion há uns seis anos atrás.
Ninguém pode beber Château Lafite ou Château Duhart-Milon todos os dias.
Mas abrir uma garrafa de Réserve Spéciale Saint-Émilion, que custa entre R$ 150,00 e R$ 180,00, é uma delícia.
É agradável, você sabe que a qualidade é boa.
Os Champagnes Barons de Rothschild são uma novidade.
Nós temos uma nova gama que saiu em 2009 pela primeira vez, em linha com Château Lafite, que é uma gama de Champagnes.
Nós respeitamos todas as grandes marcas, mas quando você se chama Rothschild e tem convidados no Château, por que vai comprar uma garrafa de Champagne Cristal, por exemplo?
A ideia foi fazer um Champagne Rothschild, primeiro para nós, para beber com nossos amigos, nossos clientes.
E como sempre, tentando fazer o melhor.
O Champagne saiu pela primeira vez em 2009, um Brut.
Depois saiu um Blanc de Blancs 100% Chardonnay.
A primeira garrafa safrada de Blanc de Blancs foi a de 2006 e a primeira nota que recebemos nessa safra foi 96 pontos.
Trabalho cumprido, missão cumprida.
Agora temos vinhos tintos, brancos e Champagnes na França, China, Argentina e Chile.
Somos uma marca global e trabalhamos todos os dias para manter a bandeira da família voando alta.
Quando você compra uma garrafa nossa tem a certeza que está comprando qualidade pelo preço que está pagando.
Existe uma nova geração de jovens que estão descobrindo os prazeres dos vinhos, como é atender esse público?
Eu vi essa modificação no mundo inteiro, de destilados para vinho.
Quando eu vim para o Brasil em um casamento era comum ter copos de whisky logo na entrada.
Hoje isso mudou, tem Champagne e vinho branco.
O consumo de whisky caiu de maneira forte, enquanto o de Champagne, espumantes e vinhos brancos subiu e vai continuar subindo.
Provavelmente mais o de espumante do que de Champagnes, por causa do preço obviamente.
Você pode beber três, quatro taças de vinho e não vai ficar inebriado.
Já bebendo quatro copos de whisky é outra situação.
Percebo também uma coisa interessante: que os jovens têm mais disponibilidade para provar rótulos que não conhecem.
Enquanto seus pais não querem descobrir coisas novas, além dos vinhos que já conhecem.
Você encontra os melhores vinhos dos Domaines Barons de Rothschild na DiVinho! E você, já provou os rótulos da vinícola?